Para não adoecer física e/ou psicologicamente, e para desenvolver uma relação mais rica e profunda com a vida, é fundamental olharmos para a nossa própria alma (sinônimo de psique), questão discutida com delicadeza e profundidade por Marion Woodman em seu livro a ‘A Feminilidade Consciente’, baseado na psicologia analítica. “A maioria das pessoas não alimenta suas almas, porque não sabem como”, afirma Woodman.
Aprender a alimentar na nossa psique de maneira saudável e criativa exige contato com a dimensão psicológica que Marion chama de Feminilidade Consciente, o que inclui a nossa relação com o corpo. “Veja, se não estamos conscientes do que sentimos, o corpo exagerará esse sentimento”, explica Woodman, demonstrando, por exemplo, como o excesso no ato de comer e de beber álcool se relacionam com uma dificuldade da pessoa de penetrar no mundo simbólico da psique.
Imaginário, mundo simbólico, corpo, transtornos alimentares, vida, dependência química e necessidades psicológicas são alguns dos temas trabalhados por Woodman na obra.
Abaixo, alguns trechos da obra que considerei interessantes, mas que devem ser lidos com o cuidado de não serem desvinculados de seu contexto, ou seja, a leitura de tais trechos não substitui a leitura integral da obra.
A FEMINILIDADE CONSCIENTE – MARION WOODMAN
É preciso entender “do que a alma sente fome – e então poder alimentá-la” (p. 19).
“A metáfora é a linguagem da alma” (p. 9).
“Somos sonâmbulos quando não damos ouvidos aos anseios de nossa alma, quando não denunciamos expressamente uma mentira, quando ignoramos a paixão que sufoca dentro de nossos vulcões interiores” (p. 12).
“A consciência feminina, no meu entender, significa mergulhar nesse enraizamento e reconhecer quem é você como alma. Tem a ver com amor, com receber” (p. 43).
“O amor é a essência da consciência feminina – nos homens e nas mulheres. É o reconhecimento e a aceitação do indivíduo total […] é a amorosidade em cujo bojo cabem todos os conflitos, todos os processos físicos e psicológicos.” (p. 26).
“Tendemos a confundir o princípio do poder patriarcal, que controla e molda a natureza a qualquer custo, com masculinidade” (p. 128).
“A anorexia e a bulimia dizem-nos que nossa alma está morrendo à míngua. […] em vez de agir movidas por seus próprios valores afetivos, sua primeira reação é: “Como é que, nesta situação, consigo agradar?” (p. 17).
“O princípio do poder mata a vida” (p. 17).
“Os patriarcas, tanto homens como mulheres, não têm noção da feminilidade consciente.” (p. 10).
A matéria é feminina. Nesse nível, o corpo dos homens é a corporificação do feminino da mesma maneira que o é para as mulheres. O extraordinário é que a matéria está se tornando consciente. Para as mulheres, existe uma constatação angustiante: “Odeio este corpo!” Para os homens ele vem à tona no grito: “Dói!” (p. 16).
“A perda da ligação com a nossa alma, a perda da ligação com a nossa feminilidade, pode ser a causa real da nossa angustiada situação de vida.” (p. 11).
“Muitas mulheres gordas, por exemplo, comem menos do que as magras. O problema pode ser que a energia bloqueada vira gordura. Em terapia, nós tentamos descobrir por quê” (p. 18).
“Para mim, o trabalho corporal é um trabalho com a alma, e a imaginação é a chave que conecta os dois. Para ter poder de cura, a imagem deve ser levada para dentro do corpo, pela respiração” (p. 21).
“A sexualidade ficará aleijada se a mãe não aprender a amar o corpo de sua filhinha. Quando esta crescer, pode querer que o homem seja mãe” (p. 22).
“As pessoas simplesmente não querem que as coisas morram. Sentem receio de abandonar o que é antigo e acolher o novo. O feminino que é genuíno sabe que a vida é cíclica, que a lagarta deve morrer para que a borboleta apareça.” (p. 24).
“Muitas pessoas não querem ser humanas; preferem viver à base de idealizações e da perfeição” (p. 25).
“Veja, se não estamos conscientes do que sentimos, o corpo exagerará esse sentimento” (p. 27).
“Quando o corpo está inteiramente aberto, podemos confiar em nossos próprios sentimentos e atos; eles nos ancoram em nosso domicílio interior.” (p. 29).
“Na parte feminina de nosso ser encontra-se um lado muito mais lento, menos racional, que se movimenta de modo bem mais espontâneo, natural, receptivo, uma parte que aceita a vida sem julgá-la” (p. 31).
“Aterrorizado pela perspectiva de ficar sozinho, a única realidade que você entende é agradar os outros” (p. 33).
“Em vez de só falar da garganta para fora, você descobre o que está dentro do corpo” (p. 35).
“Os viciados não vivem no aqui-agora”, esperam que no futuro tudo ficará bem (p. 37).
“Em vez de compreender esse apelo [da alma] de modo simbólico, as pessoas interpretam-no concretamente e começam a beber álcool, numa literalização desse anseio” (p. 39).
“A vida é uma série de mortes e renascimentos” (p. 48).
“Talvez, se efetivamente entendessem [os alcoólatras] o que estão tanto ansiando, e conseguissem penetrar no reino do imaginário, que é o reino da alma, então alguma coisa muito diferente poderia começar a acontecer” (p. 64).
“A maioria das pessoas não alimenta suas almas, porque não sabem como.” (67).
“Não há crescimento sem sentimentos autênticos. As crianças que não são amadas em seu próprio ser não sabem como se amar. Quando se tornam adultos, têm de aprender a alimentar sua criança perdida, a ser sua própria mãe” (p. 67).
“Têm medo do amor porque ele os deixa vulneráveis” (p. 69).
“Toda a correria serve para nos afastar do trágico medo de não sermos amados. […] (p. 70-71).
“Sozinhos, dialogamos com nosso corpo, com nossa alma.” (p. 77).
“Como qualquer doença, o vício pode nos levar para dentro de nosso corpo.” (p. 78).
“A agonia de um vício pode fazer com que o coração se escancare para o amor que está presente em toda a criação.” (p. 78).
“Em sua maioria, os homens são meninos apegados a suas mães” (p. 86).
“Se não conhecemos nada além de poder, o poder é o motor de nossos atos” (p. 87).
“Se não há confiança nem receptividade, não existe o funcionamento de um princípio feminino.” (p. 92).
“Nossas limitações são cruciais para quem somos. São nossas amigas, não nossas adversárias” (p. 107).
“Estamos percebendo que a vida não vale a pena ser vivida se sempre estivermos correndo o mais depressa que pudermos” (p. 112).
“Você tem que encontrar sua própria maneira de expressar quem é” (p. 119).
“A verdade é que o corpo é o melhor amigo que temos, embora muitos achem que é nosso pior inimigo” (p. 120).
“Você se senta e escuta o seu próprio corpo.” (p. 121).
“Os dependentes sofrem de uma falha da imaginação. Tornam-se prisioneiros de suas atitudes rígidas. Não conseguem imaginar a liberdade e, como negam a realidade, não conseguem mudá-la” (p. 122).
“Para mim, o verdadeiro amor, a mudança do poder para o amor, envolve um imenso sofrimento.” (p. 125).
“A feminilidade consciente […] implica a percepção consciente da energia da pedra e do amor na ave, na árvore, no acaso. Uma percepção consciente da harmonia de todas as coisas, do que viver imerso na alma mundial.” (130-131).
“Quando nos vinculamos a nossas almas, ligamo-nos à alma de cada ser humano. Ecoamos com todas as coisas vivas. É aí que acredito que esteja a cura” (p. 135).
“Se você está na realidade, então sim, você sofre, mas também experimenta o júbilo da realidade, a pura felicidade de sair para andar e enxergar aquela árvore, aquela árvore fantasticamente ereta logo adiante” (p. 143).
“Você tem que seguir suas próprias imagens […]. É a única maneira de descobrir quem você é” (p. 150).
“O Eu em processo de desabrochar começa a se relacionar com sua própria criatividade e com a criação interior.” (p. 152).
A alma das pessoas “está tão acostumada a ser golpeada que se oculta” (156).
“A feminilidade consciente nos da coragem para confiar no momento, sem saber qual é o objetivo” (p. 161).
“Penso que os distúrbios da alimentação estejam relacionados com um problema com a mãe. A mãe está associada com o nutrir, o bem-querer, a doçura – a comida é uma metáfora para a mãe” (p. 183).
“A personalidade adicta é aquela inconscientemente comprometida com a autodestruição. São pessoas dependentes” (p. 192).
“Enquanto você não tem uma noção de sua própria totalidade fica tentando encontrá-la em outra pessoa. É a mesma coisa com o princípio da comida; você busca sua totalidade na comida, no álcool, nas drogas” (p. 193).
“Se não seguirmos nosso destino, estaremos nos traindo, trairemos a pessoa que poderíamos ser” (p. 200).
“Penso que o sentimento seja crucial. Se um símbolo não está ecoando dentro de seu corpo, de sua imaginação e de sua cabeça, não está funcionando para você.” (p. 215).
“A metáfora sai de dentro dos seus ossos; é orgânica no corpo. Ecoa e você se sente inteira.” (215).
“Toda a escuridão que não queremos aceitar enfiamos dentro de nossos músculos, ossos e coração.” (p. 217-218).
“O inconsciente tem tesouros que a consciência nem suspeita” (p. 218).
REFERÊNCIAS
WOODMAN, Marion. A Feminilidade Consciente: Entrevistas Com Marion Woodman. Paulus: 2003. 248 p.