Pensando a vida profissional em tempos de crise: recomendações

Fotografia por Paul Hanaoka.

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A pandemia do COVID 19 tem trazido grande impacto no mundo do trabalho, de forma objetiva e de forma subjetiva.

impacto objetivo veio principalmente com o isolamento social, que se tornou a principal medida de proteção, necessária a meu ver, contra um vírus contra o qual não temos remédio específico e nem vacina. Com isso, pessoas tiveram que deixar de trabalhar, perderam o emprego, passaram a trabalhar menos ou, ainda, precisaram mudar de emprego. Tem sido um caos, principalmente para os mais pobres, que devido à forte desigualdade social são os mais atingidos em tempos de crise. Tanto que a pandemia tem feito muita gente pensar sobre a nossa sociedade: por que a distribuição de renda e as condições de trabalho são tão desiguais?

De forma mais subjetiva, um dos impactos da pandemia tem sido no sentido de fazer muita gente prestar mais atenção no ‘outro’ – o amigo, o vizinho, a família, a Maria, o José … – e também prestar mais atenção em si mesmo: o que desejo? Quais são as minhas prioridades? Como gostaria de passar os próximos anos? Quais são as minhas potencialidades e dificuldades? E por aí vai …

Acredito que muitas pessoas, incluindo as que possuem um bom emprego e condição financeira, estão repensando a vida profissional, inclusive considerando a ideia de embarcar numa nova área. Afinal, as doenças, principalmente as mais sérias como o COVID 19, mostra-nos que somos seres frágeis (ao mesmo tempo muito fortes!) e que o tempo não é infinito …

Em tempos difíceis, um dos desafios é não deixar morrer os sonhos, os desejos. Se você teve que adiar planos profissionais ou reformulá-los, tente não desanimar. É claro que nem tudo depende apenas da gente. Afinal, vivemos em sociedade. Se um curso que desejávamos muito for extinto amanhã, por exemplo, infelizmente teremos que mudar os planos … e entendo que neste contexto o Governo, em todas as suas esferas, tem um papel fundamental, que é o de promover e de garantir os direitos dos trabalhadores, inclusive em momentos de crise.

Vamos lá. Para quem está realizando ou gostaria de fazer reflexões sobre a vida profissional mesmo durante a pandemia, talvez as recomendações abaixo ajudem. Mas antes, um lembrete importante: elas não substituem a ajuda profissional especializada quando esta se faz necessária.

  1. Tente perceber internamente o seu desejo na área profissional: profissão, local, setores, especialidades. Isso parece óbvio, mas na prática, não é! É comum ocorrer confusões entre o que a pessoa deseja e as expectativas dos outros, sobretudo quando ela tem pouco autoconhecimento. É muito bacana ouvir as ideias da avó, avô, tio, cunhada etc sobre a questão profissional, eles podem ter razão, entretanto, a palavra final deve ser sua.
  2. Reflita sobre a escolha profissional sem colocar limites na imaginação. “Ah, mas eu moro numa cidade com 5 mil habitantes, aqui nem curso de graduação tem, pra que vou ficar ‘gastando tempo’ imaginando?”; “E essa pandemia, sabe-se lá quando vai acabar e como o mundo vai estar depois, então para que vou gastar tempo pensando?”. Calma! Certo, na cidade aonde você mora talvez os recursos sejam limitados e talvez você não possa ou não tenha condições de mudar de cidade. E sim, junto com o COVID 19 vieram incertezas sobre o futuro, mas se você quer identificar o seu desejo, é importante imaginar a sua vida em suas mais diferentes possibilidades. Limitar a imaginação é limitar o desejo. Depois você pensa sobre a viabilidade do seu projeto profissional. Antes é importante tomar consciência da base afetiva da profissão (desejo, emoções, sentimentos).
  3. Desejar, sonhar, imaginar, é fundamental e muito bom, inclusive para a saúde mental, mas precisamos colocar o pé no chão e pensar no que é possível concretizar no momento. Pense sobre os passos necessários para concretizar a escolha profissional dividindo-os em três categorias: curto, médio e longo prazo.
  4. Pense em quais pessoas podem lhe ajudar para realizar esse projeto profissional. A ajuda, desde que feita com cuidado, com consciência e baseada no diálogo e no respeito, é bem-vinda!
  5. Pesquise o máximo possível sobre as características das profissões, as possibilidades de curso (ensino técnico, ensino superior, ensino tecnólogo), o mercado de trabalho e as formas de acesso (Vestibular, ENEM, etc). Afinal, como escolher algo de cuja existência nem conhecemos?? Grandes orientadores profissionais, como o psicanalista argentino Rodolfo Bohoslavsky, destacava a importância dessa pesquisa. Autoconhecimento não basta: é preciso se conectar com a realidade, com o que existe por aí. “Ah, mas eu quero ser engenheiro, já sei o que um engenheiro faz.” Sabe mesmo? Conhece os vários tipos de engenharia? Como é o mercado de trabalho para o engenheiro? Etc.
  6. Cuidado com a ansiedade. Em tempos de crise, fazer escolhas se torna ainda mais delicado por estarmos dentro de uma atmosfera social marcada pela tensão, preocupação e ansiedade. Essa atmosfera pode acabar ‘contaminando’ as nossas decisões. Por isso, cautela redobrada antes de tomar uma decisão durante uma crise.
  7. Procure conhecer como outras pessoas estão lidando com o trabalho durante a pandemia. Comparar experiências nos ajuda a olhar para a questão de outras maneiras.
  8.  Considere as notícias acerca da pandemia em seu planejamento profissional. Se não existe previsão para ela terminar, por exemplo, considere isso. Só que cuidado com as Fake News (notícias falsas)!
  9. Separe um caderno como diário para anotar suas reflexões, descobertas e pesquisas sobre o campo profissional. Não misture com outras anotações. Ele não será um mero instrumento de registro. Será um espaço criativo seu, capaz de potencializar o processo de reflexão, pois quando nos expressamos por meio da arte (desenho, pintura, escrita, música, etc) o nosso mundo interior pode se mostrar de maneiras surpreendentes. O ser humano não é apenas linguagem verbal. Além disso, claro, o caderno facilita a retomada de alguma informação importante que foi esquecida.
  10. Talvez você tenha que mudar o seu planejamento e não há nada errado nisso. Alterações em nossos planos são quase inevitáveis. Entretanto, elas podem ser reduzidas ou antecipadas quando nos envolvemos realmente com a construção de um projeto de carreira.
  11. Talvez você não esteja pensando em mudar de profissão, mas fazer alterações “menores”, como, por exemplo, investir numa nova especialidade ou mudar de local de trabalho. Ainda assim, vale a pena levar com seriedade o processo. Negligenciar ou ignorar as suas insatisfações pode acabar não lhe tirando de onde está.
  12. O processo de reflexão é constante. Você não precisa decidir em um dia e nem sentar na mesa em frente a uma folha esperando que a resposta definitiva brotará como um passe de mágica. Agora, o fato de você se lançar à tarefa de pensar mais a respeito da vida profissional certamente fertilizará o terreno para que brotem novas sensações, emoções, ideias e reflexões.

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Psicólogo (CRP 20/4130)

pela Universidade Federal de Rondônia

Mestre em Psicologia

pela mesma universidade

Em curso de formação de analista junguiano

pela SBPA Brasil

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